Em um momento, tudo lhe havia sido tirado. Tudo! Ela não mais conviveria com presença dele que, por longos anos, simbolizou sua razão de ser. De quem cuidaria agora, pensava, se só para ele vivia.
E chorou. Muito.
Copiosamente. Por vários dias. Até que não mais chorava a dor da perda. Suas
lágrimas eram derramadas por que se condicionara a chorar ao pensar naquela
situação. Mas, a medida que o coração começou a sarar, chorar passou a ser mais
escasso, e atrelado a pequenas lembranças, aqui e ali, vinculadas a história
deles.
Neste estágio, ela encontrou
força, sei lá onde, em seu interior. Parecia uma leoa, decidida, dona de si. De
repente, viu-se a resgatar sua vida, não a do casal, mas a própria, empoeirada
em lembranças remotas, perdidas em algum canto obscuro de seu coração. E viu que
teria algo de bom a aprender com aquilo tudo. E chorar, o que passou a ocorrer
raramente, já não tinha mais aquela conotação de dor. A vida passou a ter
outras nuances, outras cores. Viver se tornou um prazeroso exercício de
descoberta e, aos poucos, tornou livre o seu coração.

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