sexta-feira, 21 de junho de 2013

‘Desmistificando’ os ‘fatos’


Bem, a proposta deste blog é discutir de tudo (até aí, nada diferente de outros inúmeros existentes, típico dos tempos em que vivemos, onde ‘generalistas’ são formados aos montes pela academia e pela mídia), com um toque de poesia (aí, não tão frequente assim).

Agarrando-me a primeira premissa, visto minha armadura de pseudo-sociólogo e parto esgrimir minhas conjecturas sobre o turbilhão que assola nossas cidades, de todos os tamanhos e regiões, neste mês de junho (e olha que não se está movido a quentão, batida e pinga, o ‘must’ alcoólico das festas juninas).

Como têm surgido várias ‘análises’, para todos os gostos, sobre estes estranhos acontecimentos (digo estranhos por que o são, dado que o Brasileiro encontrava-se ‘deitado em berço esplêndido’ a mais de 20 anos, numa total letargia e, de repente, transformou-se em um leão, sedento por justiça), resolvi colocar o meu ‘bode’ na sala, torcendo para que o mesmo não seja dela retirado de pronto, mas, sim, apreciado e  como uma das opções do menu.

Falando em tom um pouquinho menos jocoso, acredito que o desenrolar dos últimos dos fatos, até a manhã de 21/06/2013, sinalizou-nos algo até pouco tempo impensável: a condução de movimentos, manifestações e protestos não mais segue a risca o ideário de esquerda (vide toda a hostilização sofrida por estes, nos protestos de 20/06, quando suas bandeiras e faixas foram destruídas, exorcizadas em fogueiras ou recolhidas sob o risco de violência física para seus portadores), nem levanta mais suas bandeiras históricas, como a estatização de serviços, ou a reforma agrária e urbana (como defendida em entrevistas concedidas pelos líderes do Movimento Passe Livre - MPL).

O discurso tradicional de esquerda, com suas palavras de ordem, sempre verbalizou as justificativas de tais manifestações. Entretanto, nestes últimos eventos, acredito, até pelo fato de terem arregimentado muitos outros mais que não apenas universitários engajados em sua ‘revolução do proletariado’ de papel (que não é capaz de ser transportada dos livros e textos, que lemos realizar as provas, para o mundo real), este discurso enfraqueceu muitíssimo, fazendo com que sua corrente mais organizada (o MPL) declarasse, na manhã de 21/06, que não mais convocará protestos em São Paulo, tanto pelo fato de já ter alcançado sua principal e imediata meta (a revogação dos aumentos nos preços das passagens ocorridos no segundo semestre – simbolizada pelos tão discutidos R$ 0,20), quanto por demandas da ‘direita’ terem se tornado preponderantes sobre suas outras bandeiras. Estes jovens, tão elitizados, não foram capazes de captar uma sutil diferença entre seus pleitos e o da maioria dos participantes: o que move este último grupo não é a ideia de um mundo igualitário e mais justo (não, isso não é uma preocupação preponderante para eles). O que os move, principalmente, é o grito contido contra injustiças difusas (corrupção, PEC 37 – acredito que 99% não saibam do que exatamente se trata -, melhores educação e saúde etc). Estas injustiças estão aqui e acolá, mas não tão palpavelmente como no caso do aumento das passagens. Cada uma, por sinal, mereceria uma manifestação individualizada e não este balaio de descontentamentos em que as manifestações se transformaram.

Introduzida esta primeira hipótese (da perda do monopólio dos protestos pela esquerda), exponho minha segunda (quase uma constatação empírica nacional): o brasileiro ‘médio’ é conservador! Sim, amigos, o brasileiro, de forma bem generalista, não gosta de socializar! Ele se move pelo ‘ter’ para poder ‘ostentar’ (relax!, isso é mais do que humano e Marx e seus seguidores são excelentes piadistas – a partir deste ponto serei arremessado às labaredas do Inferno por meus amigos de esquerda – hehehehe). Nossa formação cultural é conservadora por assimilação. A preponderância da visão do colonizador Português trouxe, em seu bojo, todo conservadorismo daquele que era um dos países mais carolas da Europa, extremamente ligado a concepção do mundo da Igreja Católica e da Inquisição do século XVI. Quem leu o que de mais ‘atual’ existe em História do Brasil vai entender o que falei. A cultura indígena, muito mais participativa e ‘socialista’, não foi capaz de se sobrepor ao ‘novo’, vindo d’além mar. Teve que se contentar em ser, apenas, a maior fonte de nomes para logradouros em São Paulo, bem como de nos dar, graças a Tupã, a noção de que, nos trópicos, um banho por dia não faz mal a ninguém. Igualmente, a cultura negra, que não teve defensores, como os Jesuítas e Bandeirantes fizeram pelos Guaranis e outras etnias indígenas do Sul-Sudeste, trouxe-nos não muito mais que a alegria de viver, o gosto por música e ritmos extremamente marcados pela percussão e por comidas e temperos fortes. Fui bastante simplista nesta abordagem sobre formação de nossa cultura nacional, mas a ideia não era redigir um trabalho com rigor acadêmico, mas apresentar a argumentação que embase minha interpretação do momento atual.

Em resumo, acredito que o fracasso das esquerdas na condução das massas que protestam atualmente no Brasil é fruto, única e exclusivamente, do despertar do Brasileiro ‘médio’ para a defesa daquelas coisas que lhe são mais caras, mesmo que a custa do politicamente correto e do comodismo. Estamos partindo para o amadurecimento de nossa identidade social. Falta muito, ainda, para alcançarmos nações mais ‘desenvolvidas’ neste tema, mas já temos um bom começo.


(Bem, com a demora em implementar o Blog, meu texto acabou ficando ‘velho’ visto que tivemos mais protestos e um tardio pronunciamento presidencial sobre o assunto. Mas tratarei disso no próximo texto).

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