Bem, a proposta deste blog é
discutir de tudo (até aí, nada diferente de outros inúmeros existentes, típico
dos tempos em que vivemos, onde ‘generalistas’ são formados aos montes pela
academia e pela mídia), com um toque de poesia (aí, não tão frequente assim).
Agarrando-me a primeira premissa,
visto minha armadura de pseudo-sociólogo e parto esgrimir minhas conjecturas
sobre o turbilhão que assola nossas cidades, de todos os tamanhos e regiões,
neste mês de junho (e olha que não se está movido a quentão, batida e pinga, o
‘must’ alcoólico das festas juninas).
Como têm surgido várias
‘análises’, para todos os gostos, sobre estes estranhos acontecimentos (digo
estranhos por que o são, dado que o Brasileiro encontrava-se ‘deitado em berço
esplêndido’ a mais de 20 anos, numa total letargia e, de repente, transformou-se em um leão, sedento por justiça), resolvi
colocar o meu ‘bode’ na sala, torcendo para que o mesmo não seja dela retirado
de pronto, mas, sim, apreciado e como uma das
opções do menu.
Falando em tom um pouquinho menos
jocoso, acredito que o desenrolar dos últimos dos fatos, até a manhã de 21/06/2013,
sinalizou-nos algo até pouco tempo impensável: a condução de movimentos,
manifestações e protestos não mais segue a risca o ideário de esquerda (vide
toda a hostilização sofrida por estes, nos protestos de 20/06, quando suas bandeiras
e faixas foram destruídas, exorcizadas em fogueiras ou recolhidas sob o risco
de violência física para seus portadores), nem levanta mais suas bandeiras
históricas, como a estatização de serviços, ou a reforma agrária e urbana (como
defendida em entrevistas concedidas pelos líderes do Movimento Passe Livre -
MPL).
O discurso tradicional de
esquerda, com suas palavras de ordem, sempre verbalizou as justificativas de
tais manifestações. Entretanto, nestes últimos eventos, acredito, até pelo fato
de terem arregimentado muitos outros mais que não apenas universitários
engajados em sua ‘revolução do proletariado’ de papel (que não é capaz de ser
transportada dos livros e textos, que lemos realizar as provas, para o mundo
real), este discurso enfraqueceu muitíssimo, fazendo com que sua corrente mais
organizada (o MPL) declarasse, na manhã de 21/06, que não mais convocará
protestos em São Paulo, tanto pelo fato de já ter alcançado sua principal e
imediata meta (a revogação dos aumentos nos preços das passagens ocorridos no
segundo semestre – simbolizada pelos tão discutidos R$ 0,20), quanto por
demandas da ‘direita’ terem se tornado preponderantes sobre suas outras
bandeiras. Estes jovens, tão elitizados, não foram capazes de captar uma sutil
diferença entre seus pleitos e o da maioria dos participantes: o que move este
último grupo não é a ideia de um mundo igualitário e mais justo (não, isso não
é uma preocupação preponderante para eles). O que os move, principalmente, é o
grito contido contra injustiças difusas (corrupção, PEC 37 – acredito que 99%
não saibam do que exatamente se trata -, melhores educação e saúde etc). Estas
injustiças estão aqui e acolá, mas não tão palpavelmente como no caso do
aumento das passagens. Cada uma, por sinal, mereceria uma manifestação
individualizada e não este balaio de descontentamentos em que as manifestações
se transformaram.
Introduzida esta primeira
hipótese (da perda do monopólio dos protestos pela esquerda), exponho minha
segunda (quase uma constatação empírica nacional): o brasileiro ‘médio’ é
conservador! Sim, amigos, o brasileiro, de forma bem generalista, não gosta de
socializar! Ele se move pelo ‘ter’ para poder ‘ostentar’ (relax!, isso é mais
do que humano e Marx e seus seguidores são excelentes piadistas – a partir
deste ponto serei arremessado às labaredas do Inferno por meus amigos de
esquerda – hehehehe). Nossa formação cultural é conservadora por assimilação. A
preponderância da visão do colonizador Português trouxe, em seu bojo, todo
conservadorismo daquele que era um dos países mais carolas da Europa,
extremamente ligado a concepção do mundo da Igreja Católica e da Inquisição do
século XVI. Quem leu o que de mais ‘atual’ existe em História do Brasil vai
entender o que falei. A cultura indígena, muito mais participativa e
‘socialista’, não foi capaz de se sobrepor ao ‘novo’, vindo d’além mar. Teve
que se contentar em ser, apenas, a maior fonte de nomes para logradouros em São
Paulo, bem como de nos dar, graças a Tupã, a noção de que, nos trópicos, um
banho por dia não faz mal a ninguém. Igualmente, a cultura negra, que não teve
defensores, como os Jesuítas e Bandeirantes fizeram pelos Guaranis e outras etnias
indígenas do Sul-Sudeste, trouxe-nos não muito mais que a alegria de viver, o
gosto por música e ritmos extremamente marcados pela percussão e por comidas e
temperos fortes. Fui bastante simplista nesta abordagem sobre formação de nossa
cultura nacional, mas a ideia não era redigir um trabalho com rigor acadêmico,
mas apresentar a argumentação que embase minha interpretação do momento atual.
Em resumo, acredito que o
fracasso das esquerdas na condução das massas que protestam atualmente no
Brasil é fruto, única e exclusivamente, do despertar do Brasileiro ‘médio’ para
a defesa daquelas coisas que lhe são mais caras, mesmo que a custa do
politicamente correto e do comodismo. Estamos partindo para o amadurecimento de
nossa identidade social. Falta muito, ainda, para alcançarmos nações mais ‘desenvolvidas’
neste tema, mas já temos um bom começo.
(Bem, com a demora em implementar
o Blog, meu texto acabou ficando ‘velho’ visto que tivemos mais protestos e um
tardio pronunciamento presidencial sobre o assunto. Mas tratarei disso no
próximo texto).